Prelúdio - Ao lado do fim

O mundo está inerte, parado no tempo em um pôr do sol eterno. Os dias e noites se misturaram e as horas que os relógios mostram não seguem mais a lógica natural da vida. Jonas e Manu estão desgastados de ficarem esperando o final de suas vidas. Estão deitados na sala do seu apartamento, eles foram os únicos que permaneceram no prédio. Todos fugiram para uma salvação milagroso ou uma morte honrosa. Menos eles, o casal obsoleto, a dupla da procrastinação apocalíptica. Foi nesse instante, onde mais um segundo se acumulou na desesperança dos dois que Manu surtou.
- Não aguento mais Jonas, preciso fugir disso tudo.
- Amor, aqui temos um pouco de comido e lugares ainda para buscar. Não existe salvação milagrosa para o fim do mundo.
- Não tenho mais medo do céu, sei que o ar vai me matar, mas por algum motivo eu e você vamos morrer lentamente. Não seremos iguais aos outros e não passaram das primeiras semanas.
- Não temos para onde ir. O mundo é imenso, está sem recurso e em estágio terminal. O que faremos?
- Vamos viver, tentar mudar algo. Agir! Eu sinto que precisamos ir.
- Essa não é uma boa ideia... - Manu interrompe Jonas com lagrimas, ele para de falar e observa. Ela não fala nada, apenas se afasta um pouco até encosta na parede. Ela faz sinal de não com a cabeça e levemente coloca a mão em sua barriga. Ela aproxima suas mãos do ventre e continua fazendo sinal de não.
- Você está?
- Estive... A alguns dias não estou mais.
- Mas porquê... - ela interrompe novamente.
- Sem porquês por favor... Só vamos.


Com isso eles partem. As ruas estão desertas, mas é diferente de como eles imaginavam o final da existência, sem caos, sem multidões pelos cantos, sem entulhos para todo lado, sem lojas quebradas, sem nada. Apenas o alaranjado que cobre todo planeta, seja lá o que aconteceu ainda persiste, como se as nuvens estivem em chamas. Já foram semanas a fio, cerca de dois meses e ainda nada mudou. Agua com gosto ruim, plantas murchas, alimentos escassos e pelo menos naquela região onde estavam andando agora, nenhum ser humano habita os prédios e casas ao redor. Eles vão seguir lado a lado, seja para o final ou para um recomeço.